Franco Nero e seu “filho” favorito

13 08 2011

Agradeço imensamente ao blog Titara’s World; não considerem isso um plágio, mas sim uma homenagem a este monstro sagrado que é Franco Nero.





Devaneios de um Spaghetti qualquer

14 06 2011

Il Grasso, Il Magro e Il Bello” (O Gordo, o Magro e o Belo) – Terence Hill e Bud Spencer são dois irmãos encrenqueiros na cidade de Arrow City. Beberrões inveterados, os dois se apaixonam pela forasteira Claudia Cardinale. Porém, com a chegada do noivo de Claudia, o famoso pistoleiro Franco Nero, muitas brigas de bar, encontros mal sucedidos e confusão estão armadas! Dirigido por Enzo Barboni em 1974, o filme se torna um hit nas bilheterias italianas, e é exibido no Brasil regularmente na Sessão da Tarde a partir dos anos 80. Trilha sonora: Country Boy – Johnny Cash. Cena inesquecível: Hill, escondido embaixo da cama e Spencer mergulhado na banheira (sem saber da presença um do outro), enquanto Nero adentra o quarto de Cardinale para pegar o anel de noivado que comprara para a beldade.

Il Lupo Della Steppa” (O Lobo das Estepes) – Estrelado por Tomas Millian, conta a trajetória de um mestiço indígena e mexicano, exímio pistoleiro e caçador que vive isolado nas montanhas em território sioux. Com manchas em seu passado, Millian deve escapar da caçada do implacável Klaus Kinski, cujo irmão fora morto pelo mestiço anos atrás; dirigido por Sergio Sollima, Millian busca não apenas escapar com vida, como a redenção de seus pecados. Trilha sonora: Ghost Riders in the Sky – Johnny Cash. Cena inesquecível: Escondido do cerco de Kinski, Millian se refugia numa toca de lobos, com quem protagoniza uma espécie de duelo psicológico; no fim das contas, Tomas consegue manter os animais calados enquanto Klaus e seus homens vasculham as redondezas, deixando o espectador sem fôlego.

Un Centesimo Per la Tua Vita” (Um Vintém por sua Vida) – Gian Maria Volonté é o melhor jogador de Liar’s Dice do Velho Oeste, e também é um exímio pistoleiro. Ao competir no maior torneio deste jogo, realizado em El Paso – financiado pelo General Mario Brega -, Volonté precisa derrotar seus adversários nos dados e nas balas. Gianni Garko é um dos grandes rivais de Gian neste filme dirigido Enzo Castellari. Nos anos 90 houve um remake adaptado de Hollywood, com Mel Gibson como estrela. Trilha sonora: Mean Eyed Cat – Johnny Cash. Cena inesquecível: Volonté ganha um jogo contra uma mesa de pistoleiros mal encarados em uma cidade abandonada, e posteriormente os mata após perceber a armadilha montada pelo bando.

La chiamata Clint” (O Chamavam de Clint) – Charles Bronson é um velho pistoleiro, morador de um sítio afastado de qualquer civilização junto com sua amada Sophia Loren. Porém, com a ascensão do fazendeiro Eli Wallach na cidade de Paso Grande, o povo começa a ser oprimido, e apenas Bronson pode livrá-lo de seu maior detrator. Dentre os capangas de Wallach, se encontram nomes como Aldo Sambrell, Giuliano Gemma, William Berger e um irreconhecível David Carradine. Sergio Leone aceitou realizar o filme para conseguir financiamento para seu Era Uma Vez na América; como sempre, Ennio Morricone é o principal responsável pela trilha sonora, que também conta com músicas de Johnny Cash. Com o filme, Leone finalmente ganha seu Oscar, e arma terreno para sua grande saga italiana, dividida em dois filmes de 3h de duração. Trilha Sonora: Meet Me in Heaven – Johnny Cash. Cena inesquecível: a chegada de Bronson à cidade para o final apoteótico, em uma grande panorâmica sobre o centro do povoado, com um olhar distante, frio, de um assassino acordado novamente.

PS: Agradecimento especial ao grande amigo Osvaldo Neto, que me fez pensar nestas doces ilusões ao enviar “Ghost Riders in the Storm” no Facebook; valeu, amigo!





Keoma

11 05 2011

Na segunda metade dos anos 70 o western spaghetti já era um gênero consolidado, mas com cada vez menos público e sucesso. Toda uma geração de filmes que se iniciara no início da década anterior parecia estar nos seus últimos suspiros. Então Enzo G. Castellari mostrou que ainda havia algo que valia a pena, e fez nada menos que Keoma, em 1976. Estrelado por Franco Nero, um dos maiores protagonistas do spaghetti, e com um elenco de apoio de peso, com nomes como William Berger e Woody Strode, Castellari fez um filme místico e revolucionário, marcado para muitos como o “último grande western spaghetti“.

Keoma [Franco Nero, com visual hippie-revolucionário-sem-drogas-lisérgicas], um mestiço de branco e indígena, volta à sua cidade natal após lutar na Guerra Civil. Ao chegar, se depara com um cenário catastrófico: o local foi dominado por Caldwell [Donald O’Brian], que recruta ex-soldados confederados para dominar a cidade, assolada pela peste. Assim, é Caldwell que decide quem vive, e quem é relegado ao exílio. Os três meio-irmãos de Keoma acompanham o crápula, enquanto seu pai [William Berger, num dos melhores papéis de sua carreira] se mantém distante do conflito. Keoma vê até o ex-escravo George [Woody Strode, já sessentão], que era um símbolo da liberdade em sua infância, transformado em um bêbado indefeso. A partir daí, o mestiço resolve trazer a justiça ao povoado, custe o que custar.

Keoma é, de certa forma, um filme místico. A imagem de Nero resgata muito a de uma espécie de “Messias”, que retorna à sua cidade natal determinado a fazer o que é correto: dar liberdade a seu povo. Em seu caminho, Keoma não se importa com os inimigos, pois há um objetivo maior, há pessoas que dependem de sua força e astúcia para que as injustiças sejam corrigidas. Neste caminho, é simplesmente genial ver a transformação de George, o ex-escravo que retoma sua força de outrora para lutar por uma causa. Além disso, é interessante notar o papel de William Shannon [Berger], pai de Keoma, que está dividido, pois seus filhos estão em lados opostos. Ele evita ao máximo adentrar o conflito, e quando o faz, o filme aumenta ainda mais suas proporções.

Além disso, há a misteriosa figura da velha bruxa [Gabriella Giacobbe], versão feminina do Mestre dos Magos no Velho Oeste, que salvara a vida de Keoma quando pequeno, e surge em momentos decisivos do filme. Ela tem papel crucial na conclusão do filme, que, diga-se de passagem, é uma das sequências mais belas e poderosas do spaghetti: Keoma lutando contra seus meio-irmãos, enquanto a grávida Lisa [a bela Olga Karlatos] dá sua vida para que seu bebê nasça. Bem lembrado pelo amigo Osvaldo Neto, Castellari extingue o som das balas nesta sequência, enquanto ressalta o choro da nova vida que surge. É por isso que Keoma luta, e constata: “essa criança vai viver independentemente do que aconteça, porque ela é livre!”

Na parte técnica, o filme também é uma obra-prima. Fortemente influenciado pelo modo de Sam Peckinpah filmar, há sequências de ação memoráveis em câmera lenta – esqueçam essa babaquice de hoje em dia, estamos falando do slow motion old school -, e grandes planos que se utilizam do travelling com maestria. Há um plano-sequência inesquecível, em que Keoma conversa com seu pai, e a câmera lentamente muda de enfoque, onde vemos que Castellari não está pra brincadeiras! O trio Nero-Berger-Strode está impecável, e ainda há espaço para destacar o desempenho de Giacobbe e Karlatos, que dão o tom emocional do filme.

“Keoma” pode não ser o último western spaghetti, mas não é ousadia dizer que é a última obra-prima do gênero. Enzo Castellari em seu ápice com um elenco e roteiro poderosos às mãos, o italiano brinda seu espectador com sequências inesquecíveis e uma história marcante. Simplesmente obrigatório, seja você assíduo fã do gênero ou não.

“Keoma” – Excelente